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2014-01-22

LOST for all eternity


Desta vez, com a bênção do timewarp (um recurso tããão "Lost"), que nos permite analepses e prolepses, e com a grande ideia do canal MOV de ter retransmitido toda a série em HD, vi tudo. Tudo. Não perdi um minuto. Quase oitenta horas da melhor série de todos os tempos, digo mais, do melhor naco de arte em movimento alguma vez visto. Acaba amanhã, no episódio dezoito da sexta temporada, e desta vez tenho uma ideia muito diferente da primeira vez, estendida ao longo dos seis anos que demoraram a passar os cento e oito episódios e as seis temporadas. Ao ver praticamente um episódio por dia (foi o meu vício do último trimestre), sem perder pitada, tudo faz sentido, e nem sequer está confuso. E o que eu achei "cheesy" na crónica que escrevi em 2010, "O Lost não acabou (declaração fanática)", parece-me agora a única saída justa para os fãs, que aliás deviam ser todos os habitantes do planeta. Este final coloca a série acima do tempo, a vida que se recompõe no "flash sideways" - porque todos acabam por se tocar e lembrar do universo paralelo da ilha - ou a morte e chegada ao paraíso na história que nos é contada desde o início. Com efeito, desta vez ficou claro que este é o paraíso de Jack, o lugar onde todos se encontram à morte deste, e que os melhores amigos, vivos ou mortos, nunca abandonarão. É um lugar de memória ou de fé, como queiram, a que todos temos direito. Porque nem todos os que lá se encontram, no final, na igreja inundada de luz, estão mortos. Estão é presentes para o morto. Hurley torna-se o novo Jacob, com o improvável ajudante Ben, Jack morre, Sawyer, Kate, Miles, Claire, Lapidus, Miles e Desmond salvam-se. Mas estão todos presentes na morte de Jack, nesse lugar especial onde os amigos se encontram, estejam vivos ou mortos, e que para uns é a fé, outros a memória, outros as duas coisas. O "let go" é, no fundo, a paz. A paz eterna. Não a solidão. Não a ausência.

Há um momento que, se perdido, pode dificultar o entendimento do argumento, este arrebatador argumento: aquele em que Jacob explica que a ilha tem a função de um rolha num garrafão, e que o vinho dentro do garrafão é o mal. Sem rolha, o mal não é contido e o mundo fica coberto de trevas.

O que torna esta série notável é que não é propriamente fantasia.
Tomamos contacto com as perguntas que fazemos desde que temos consciência. O que estamos aqui a fazer? O que é isto? Existe vida além da morte? Há céu, inferno, purgatório? Deus? O que é deus?
O equilíbrio entre o bem e o mal percorre cada episódio. É o próprio Jacob que diz ao irmão, quando observam mais um barco a chegar à ilha e prevêem que os que náufragos seguirão o caminho de todos os anteriores: uma união inicial no desespero e na sorte, uma luta pela liderança, pelo poder, guerra, morte. Que é sempre assim, sempre igual, será sempre, até ao fim.

Mas os grandes desígnios não fariam esta série perfeita, como defendo que é: o que a faz perfeita é ter tudo, e se nem sempre isso quer dizer boa arte (muitas vezes há que tomar partido, fazer opções estéticas, não atirar tudo para dentro do caldeirão), a verdade é que os argumentistas usam com mestria as oitenta horas que lhes dão para contar esta história que, no fundo, é a história da humanidade.

Há grandes histórias de amor, que nunca se desgastam, que são profundamente complexas e raramente ficam claras. As excepções são as de Rose e Bernard, a de Charlie e Claire, a de Sayid e Shanon, a de Desmond e Penny, a de Daniel e Charlotte, a de Hurley e Libby. O triângulo Kate-Jack-Sawyer é tremendo e  muito bem cuidado por quem escreve.

Há grandes histórias de vida, sempre muito bem contadas, sem perda de interesse. Não é porque saímos da ilha e entramos na vida de uma das personagens que desmobilizamos: tudo é relevante, tudo é intenso, tudo é tenso.

Mas não quero terminar esta declaração de amor sem reforçar a escolha da personagem favorita:

Sawyer é das mais bem construídas personagens da história da televisão e do cinema. Tem tudo o que é possível ter, é a dualidade humana em carne viva, é simultaneamente uma coisa e o seu contrário, honesto e vigarista, egoísta e altruísta, justo e vingativo, duro e de coração mole, aparentemente estúpido, mas muito culto (é o que mais lê ao longo de toda a série, está sempre a ler, e a ler grandes livros), e a verdade é que usa a cultura de uma forma popular, terra-a-terra, como sempre me pareceu boa ideia. Tem a melhor escolha de perfume (Davidoff) e é o que, no triângulo com Kate e Jack, demonstra o seu amor por Kate por acções, não por omissões, como o atormentado Jack.

Em rigor, e com poucas excepções, todos os elementos de Lost têm esta dualidade, afinal a dualidade de que somos feitos.

O que custa a quem realmente se dedica a estas oitenta horas sublimes é deixá-las, é não ter mais, não ter para os anos todos que faltam viver. E é curioso como, tendo o casting sido perfeito e a direcção de actores do outro mundo, poucos são os actores de Lost que continuaram com trabalho e visibilidade. E são muitos os que sofrem de uma espécie de síndrome pós traumático. A forma como todos viveram os seis anos da série, mesmo os secundários, foi a forma como se deve viver toda a arte: visceral.

Mas isso tem sempre efeitos secundários. Quando se põem as vísceras nas coisas e as coisas acabam, fica o corpo vazio, os ossos, numa espécie de deserto.

Valha-nos a grande banda sonora e a hipótese de, de vez em quando, rever a série que nos marcou as memórias como se fizesse parte da nossa vida.

Na realidade (coisa engraçada de se dizer da ficção), fez.
Fará sempre.

PG-M 2014

2010-06-09

O Lost não acabou (declaração fanática)


É assim: adiei, adiei, adiei, gravei os dois últimos episódios em HD, escolhi o momento para poder sorver cada minuto dos ditos. E para me despedir das personagens que conheço há seis anos. Na brincadeira, disse a todos que era para me despedir da Kate, mas é verdade que houve na série muitas mulheres deslumbrantes. Sim, porque, como se vê no último episódio, a Kate não fica lá muito bem de vestidinho justo e saltos altos. É a menos feminina de todas. Mas adiante, porque o que aqui me traz é coisa diversa. Pretendo apenas que fique registado, nestes primeiros dias de Junho de 2010, que ninguém me convence que o Lost acabou. Podem escrever. Não só porque o argumento ficou aberto, como é óbvio, não só porque o final pode ser só mais um delírio, mas porque os americanos, pura e simplesmente, não acabam nada assim. Acabam por exaustão, muitas vezes de repente e sem concluir a tarefa, mas, por mais que os não-fãs repitam sempre aqueles argumentos estafados do "não percebo nada" (querem perceber sem ver, os bacocos!), onde é que o Lost está exaurido?
Não está.
E se não o quiserem escrever, escrevo eu: A série vai continuar, provavelmente com duas a três temporadas de permeio (nunca antes de 2012, o tal ano do apocalipse:) ou então a equipa vai oferecer-nos "Lost - the movie" no cinema (era boooom!).
Não, não tenho informadores dentro de lado nenhum.
É pura dedução lógica sobre uma indústria que nos tem oferecido poucas surpresas.
Sim, "apesar" de Lost.
E apesar desta útlima temporada. Pouca imaginativa, às vezes mesmo de gosto duvidoso,  mesmo "cheesy" no final.
Mas, temei leitores que procuram nesta palavras conforto espiritual ou vingança dos fãs que  vos ignoraram sempre olimpicamente (e muito bem): eu também vos ignoro.

Porque, apesar de tudo, vi estes dois últimos episódios no velho estado de transe, desfrutei de cada segundo. Despedi-me de todos eles (caso não saibam, o meu favorito era o James, não só porque usa o meu perfume, mas porque tem o aspecto que eu achava que um dia podia ter tido:) quase em oração (private joke), e, sim senhor, gostei.

 Mas não acabou. (Am I in denial?)
No f... way! :)