para o diploma cravado na parede branca do escritório
devoluto,
senti vergonha
pela primeira vez.
Não calarão mais.
Já me sugaram o sorriso quando, a olhar
para o prato vazio do meu filho na mesa vermelha da cozinha,
senti fome
pela primeira vez.
Não sugarão mais.
Já me prenderam os braços quando, a olhar
para o futuro negro como o mar minimalista do Billy
Bud do Melville
me julguei louco
pela primeira vez.
Não prenderão mais.
Já me forçaram o choro quando, a ouvir
a primavera do Einaudi
não enlevei
pela primeira vez.
Não forçarão mais.
Já me secaram as lágrimas na fila do emprego quando,
a explicar a minha merda de vida à luz do amor
me odiei
pela primeira vez.
Não secarão mais.
Já me enganaram quando, nas audiências políticas
às selecções nacionais me pediram para esquecer
tudo e pendurar bandeiras
no corpo que mirra
e na casa que foge.
Não enganarão mais.
Já me prenderam numa massa de gente em desespero
com a corda demagoga
"eu demagogo, quem, demagogos?"
e me culparam de tudo
de perderem a margem de conforto
o colégio o luxo e a potência
que é cada vez mais difícil
passar por mim
e até por cima
de mim
nós que fuçamos sabemos do que se gasta e desgasta
os parasitas das portas dos cafés votarão sempre
nos parasitas das portas dos palácios
Mas doravante venha
a transparência líquida
para toldar o punho
que nos venda
e diz que o amor
é uma lenda
e a liberdade
mania
e a coragem
a mais pérfida loucura
em pó
e aos dedos que nos culpam
de si próprios
forçaremos a vitória
e contaremos na rua
milhões de vozes
ou um silêncio
fecundo
e final.mente. seremos
campeões do mundo
PG-M 2012
fonte da foto

2 comentários:
Muuuuuiiiito Bom! Abraço
Artur
Obrigado, Artur! Abraço,
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