já são nove da noite
a orquestra nunca tocou no botequim
a cientista fuma um cigarro
entre contagens
olha o relógio
no pulso nu deste
século
está frio no tronco proibido
do jardim
ele dentro da boca
dele
lama nas pautas da
serenata
perderam o último autocarro
nos fumos da treva
e os cafés vazios
cheios dos tristes
da madrugada
o restaurante quente e alaranjado
o portão automático a abrir
o comando na mão
o vulto fluorescente da cozinha
ele vai beijá-la uma só vez
hoje
o abraço fica até
se encher de
filhos
ou nada
estão a chorar
o cemitério já fechou
e as campas quietas
tenho tantas saudades
diz a velha já deitada
tantas saudades
as auto-estradas vão ficando
foscas
as casas claras
as pontes menores
os montes maiores
os mares iguais
aos céus
a sala de cinema enche
e há vidas que sim
e há vidas que não
que já passa
das nove
da noite
PG-M 2015
fonte da foto
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